Se aprovada no Senado, Convenção-Quadro, que prevê medidas para reduzir o plantio do tabaco, pode falir 2,2 mil agricultores somente em Canoinhas

CANOINHAS ? ?Mesmo com o preço ruim, o fumo ainda é o melhor negócio. Se acabar com a cultura do fumo em Canoinhas, a cidade vai encher de agricultores sem nenhum serviço?, teme o produtor agrícola Alceu Schonhetzki, que está plantando cerca de 20 mil pés de fumo em sua propriedade de um hectare na localidade de Salto d?Água Verde, em Canoinhas.

Alceu é só um dentre os mais de 2,2 mil produtores de fumo da cidade. Eles correspondem a cerca de 75% dos agricultores canoinhenses, um número significativo que preocupa o secretário da Agricultura, Donato Noernberg, por conta do Convenção-Quadro, aprovada pela Câmara dos Deputados e que acaba de dar entrada no Senado.

?A convenção foi aprovada na surdina na Câmara e agora precisa de uma ampla discussão antes de ser votada no Senado?, defende Noernberg.

No mês de agosto, o secretário participou de duas convenções, uma em Irati no dia 19 e outra em Florianópolis, dia 26, onde se discutiu os efeitos da possível lei que visa reduzir, por meio de metas, o plantio do fumo no Brasil.

As medidas, consideradas desleais pelo agricultor Ervino Kuhn, que está plantando 80 mil pés de fumo em sua propriedade no Salto d?Água Verde, prevêem altas taxas de impostos para o fumo e seus subsídios, procurando assim minar a cultura e levar os produtores a buscarem outras culturas. ?Não existe nada hoje que dê mais lucro do que o fumo?, afirma Ervino. Para comprovar a potência do fumo, o produtor afirma, ?plantei milho e soja também na safra passada. Consegui pagar minhas despesas com essas culturas com o dinheiro do fumo?.

Ervino conta que consegue um lucro líquido de até 85% com o fumo, o que não ocorre com a maioria das outras culturas. ?Plantar fumo dá trabalho, mas a despesa é pouca?, pondera.

SAÚDE

O principal motivo que levou o Governo a participar da Convenção-Quadro foram os altos índices de pessoas com doenças causadas pelo fumo. ?Não fechamos os olhos para a questão de saúde. Os produtores têm consciência disso. O que queremos é uma garantia do Governo de que vai cumprir o que prevê a Convenção-Quadro no tocante a subsídios para a mudança de cultura?, opina Noernberg. Mesmo com ajuda do Governo, Noernberg acha a questão bastante espinhosa. ?É complicado mudar a cultura de 2,2 mil pessoas de uma hora para outra. Isso não existe?, assegura, fazendo previsões ainda mais alarmistas se a Convenção passar pelo Senado. ?Isso pode quebrar o município?.

Ervino diz que tem noção dos males do fumo, mas questiona. ?Será que a redução do plantio acaba com o vício??

DESILUSÃO

Para a maioria dos produtores, no entanto, essa opinião não é nem um pouco alarmista. Eles mesmos prevêem um êxodo descontrolado de agricultores para o centro caso a Convenção Quadro entre em vigor. ?Vai ser um caos?, prevê o agricultor Moacir, que além de ter sido enganado na safra passada ao vender toda sua produção de feijão por R$ 18 mil e receber em notas falsas de R$ 50, amarga o prejuízo sem solução. ?Além disso, ainda vamos perder o fumo?, diz, indignado com o Governo, a quem atribui a culpa por todos os males de sua vida.

Sobre as novas culturas, Alceu afirma. ?Lucra-se muito pouco?, e cita o exemplo de produtores de maçã e melissa que não chegam a lucrar R$ 1 por quilo produzido.

Com o fumo, segundo os produtores, em época de baixa, é possível lucrar até R$ 5 por quilo. Alceu fala ainda dos inúmeros empregos criados pelo fumo. ?Desde a produção do adubo até a colheita são muitas pessoas envolvidas?, assegura.

POSSÍVEL SAÍDA

Sobre o comportamento de Canoinhas em relação a possível lei, Noernberg diz que uma das propostas é seguir o exemplo da cidade de Venâncio Soares, um dos maiores produtores de fumo do Sul do País, onde os vereadores criaram uma lei que permite o livre cultivo do fumo na cidade. ?Precisamos apenas ver sobre a constitucionalidade dessa lei?, pondera Noernberg.